Atividade de
Língua Portuguesa
Leia o texto
para responder às questões de 1 a 20.
A falsa
inocência
É burrice proibir a propaganda para crianças. Elas não devem ser
afastadas do mundo real
Walcyr Carrasco
Quando eu era menininho, mais ou
menos aos 7 anos de idade, um colega me ofereceu um relógio no recreio. O preço
era baixíssimo, 1 ou 2 cruzeiros na época. Menos que um sanduíche. Comprei.
Cheguei em casa feliz com a nova aquisição. Meus pais examinaram o relógio e
concluíram:
– É impossível custar só isso. Aí tem alguma coisa errada.
No dia seguinte, em lágrimas, tive de levar o relógio de volta e entregar à diretora da escola, com quem minha mãe falara pessoalmente. Não deu outra: era roubado. Eu chorava tanto pela perda do relógio como do dinheiro. Foi uma lição sobre valores, proporcionada, paradoxalmente, pelo contato com meu coleguinha larápio. Mas não é bom aprender a lidar com gente desonesta?
– É impossível custar só isso. Aí tem alguma coisa errada.
No dia seguinte, em lágrimas, tive de levar o relógio de volta e entregar à diretora da escola, com quem minha mãe falara pessoalmente. Não deu outra: era roubado. Eu chorava tanto pela perda do relógio como do dinheiro. Foi uma lição sobre valores, proporcionada, paradoxalmente, pelo contato com meu coleguinha larápio. Mas não é bom aprender a lidar com gente desonesta?
As lições da minha infância foram
fundamentais. Me espanto quando grupos que pretendem defender a criança fazem o
inverso: impedir que vivam experiências que contribuam para a formação de valores.
Acho uma burrice a recente resolução do Conselho Nacional da Criança e do
Adolescente, que proíbe a propaganda de produtos para a infância e
adolescência, com força de lei.
Certamente, quem compõe o órgão
ligado à Presidência tem as melhores intenções. Mas age como se a criança
devesse ser isolada de toda e qualquer experiência, inclusive do desejo de
consumo. Fui um menino de família humilde. Inúmeras vezes pedi coisas
impossíveis a meus pais. Ouvia “nãos” e aprendi a conviver com as limitações financeiras
de minha família. Nem todas as conversas eram calmas. Fui um menino que batia o
pé. E daí? A resolução do órgão governamental, assim como outros projetos de
lei e ONGs, retira a educação dos filhos das mãos dos pais. Passa a ser uma
decisão do Estado, que passa a controlar até suas pequenas ambições e a
possibilidade de debate familiar.
Desculpem, já não se viu isso antes,
em Estados totalitários?
Colocar uma cúpula em torno das
crianças é um falso pedagogismo. O grande teórico da educação Jean Piaget
afirma que a criança deve construir o conhecimento. Para construir, são
necessários elementos da realidade. Comecei falando de publicidade, porque é um
fato recente. Mas o que mais assusta os bem-intencionados é a sexualidade. A
educação sexual tornou-se uma lição ginecológica. Uma amiga tem dois filhos
gêmeos e uma menina, mais velha. Depois de se preparar, conversar com uma
pedagoga e tudo o mais, preparou-se para o grande dia. Sentou-se com os três e
contou tudo sobre o ato e o nascimento dos bebês.
Veio à pergunta fatal, da menina:
– Mamãe, você já fez?
Ela respirou profundamente e
respondeu:
– Sim, já fiz com seu pai.
A menina sorriu.
– Então, você teve sorte, só teve de fazer duas vezes para ter três filhos!
– Então, você teve sorte, só teve de fazer duas vezes para ter três filhos!
A mãe ficou sem resposta. Eu disse:
– Agora você tem um problema. Terá de
explicar a sua filha que não é uma obrigação horrível. Mas que é bom, só que
ela não deve fazer com todos os coleguinhas da escola.
A teoria esqueceu o principal: o
amor. Uma criança não tem de ser tão bem informada quanto um médico. Mas
entender um tema tão complexo por meio dos sentimentos. Adolescentes são tão
expostos ao sexo – e hoje cada vez mais cedo –, então é bom que saibam do que
se trata. Minha avó paterna, Rosa, se casou aos 13 anos com meu avô Ginez, já
nos 20. Passaram mais de 50 anos juntos. Sinceramente, não posso dizer que
minha avó fosse oprimida. Era brava, e quem comandava a casa era ela. Era comum
que adolescentes se casassem. Basta lembrar nossos avós ou bisavós. Eu mesmo já
pensava em sexo bem cedo. Lia os romances de Jorge Amado aos 12 anos e,
desculpem, não era por paixão literária, mas pela sensualidade que
transbordava em cada página. Os bem-intencionados que tentam afastar as
crianças do mundo real, que fazem exigências sobre o que se pode dizer numa
novela, nos livros adotados em escolas, na propaganda, não se lembram da
própria infância? Pensavam em sexo, é claro. Curiosidade é parte da natureza.
Ainda bem que existem os contos de
fadas. Neles, ainda não tiveram coragem de intervir. João e Maria são
abandonados pelos pais na floresta. Salvam-se assando a bruxa no forno e
pegando a fortuna dela, quando, então, são recebidos pelos pais, felizes. Não é
um exemplo de vida, mas ajuda a criança a conviver com seus próprios
sentimentos de rejeição e violência. Estabelece uma ponte com o mundo
conturbado que, mais tarde, será preciso enfrentar.
Disponível em: http://epoca.globo.com/colunas-e-blogs/walcyr-carrasco/noticia2014/04/bfalsab-inocencia.html Acesso: 25/05/2016
1. Sabemos que o texto
dissertativo-argumentativo deve ser escrito
em linguagem formal. Reescreva o trecho abaixo, mantendo a ideia do autor, mas utilizando a
linguagem formal.
É burrice proibir a
propaganda para crianças. Elas não devem ser afastadas do mundo real.
2. Retire outras passagens do texto em que ocorram a linguagem informal.
3. O autor utilizou a linguagem informal em
algumas passagens do texto por quê?
4. Reescreva as orações da questão um, substitua
o ponto por vírgula e utilize um
conectivo que transmita a ideia de explicação.
5. O autor é contra ou a favor da proibição
de propagandas para crianças?
6. Qual a tese defendida pelo autor desse texto?
7. Que argumentos o autor utilizou para sustentar sua tese?
8. O que Jean Piaget afirmou sobre a criança?
9. Segundo o autor, como o tema da
sexualidade é tratado?
10. Por que o autor defende que a teoria
esqueceu o principal?
11. O que o autor afirma sobre os avós e os bisavós?
12. Por que o autor lia Jorge Amado?
13. O que ele
afirma sobre os bem intencionados?
14. Por que o autor afirma: “ ainda bem que
existem os contos de fadas”?
15. Segundo o autor, os contos de fadas servem
para quê?
16. O autor utiliza traços humorísticos no
texto. Retire exemplos de humor nesse texto.
17. “Quando eu era menininho, mais ou menos aos 7
anos de idade,(...)”, o termo em destaque estabelece relação de:
A) tempo.
B) conclusão.
C) explicação.
D) oposição.
E) comparação.
18. “Ainda bem que existem os contos
de fadas. Neles, ainda não tiveram coragem
de intervir.” o termo em destaque substituí:
A) João e Maria
B)
contos de fadas
C) pelos pais
D) bruxa no forno
E) um exemplo.
19. “ – Agora você tem um problema. Terá de
explicar a sua filha que não é uma obrigação horrível. Mas que é bom, só que ela não deve fazer com todos os
coleguinhas da escola.” Substitua a expressão, em destaque, por outra que mantenha a mesma ideia expressa por ela.
20. Esse texto é um/uma:
A) crônica narrativa.
B) artigo de opinião.
C) dissertativo-argumentativo.
D) conto de fadas.
E) nota de enciclopédia.
21. Como o tema da sexualidade deve
ser encarado por pais, igrejas e escolas na atualidade? Escreva um parágrafo ou
dois para organizar sua resposta. utilize a linguagem formal.
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